A Polícia Federal concluiu o inquérito contra o empresário e atleta Renato Cariani, 47, sob a suspeita de envolvimento em um esquema de desvio de produtos químicos para a fabricação de drogas como cocaína e crack. Três pessoas foram indiciadas pelos crimes de tráfico equiparado, associação para o tráfico e lavagem de dinheiro.
Além de Cariani, a polícia indiciou Roseli Dorth, sócia do influenciador em uma empresa para venda de produtos químicos, a Anidrol Produtos para Laboratórios Ltda., em Diadema, e o suposto intermediário Fábio Spinola Mota, apontado como membro PCC.
Mota havia sido preso no início do ano passado em outra operação da PF, a Operação Downfall, que investigou esquema de “tráfico internacional e interestadual de drogas, com diversas ramificações no país”. Para a polícia, ele seria o intermediário de Cariani com o PCC.
A conclusão do inquérito foi revelado pelo G1 e confirmado pela Folha de S.Paulo.
O inquérito foi encaminhado para o Ministério Público de São Paulo, que, agora, vai decidir quais medidas devem ser tomadas: o arquivamento do caso, novas diligências ou a denúncia dos suspeitos à Justiça. Procurado, o órgão ainda não se manifestou.
“O indiciamento de Renato ocorreu há mais de 40 dias, antes mesmo de eu ter tido a oportunidade de prestar esclarecimentos. De igual forma, as conclusões da Autoridade Policial expostas no relatório são equivocadas, e vêm sendo contraditadas no curso do procedimento. Apresentamos ao juízo dezenas de documentos que comprovam que Renato jamais participou de qualquer atividade ilícita, e temos a certeza de que sua inocência será reconhecida pela Justiça”, diz o advogado Aldo Romani Netto.
A Folha de S.Paulo busca contanto com a defesa dos outros suspeitos, mas ainda não conseguiu.
A polícia chegou a pedir a prisão deles durante as investigações, mas o foi negado pela Justiça. Durante o operação da PF no final de 2023, os policiais encontraram R$ 100 mil em espécie na casa de Mota.
A hipótese da polícia é que parte do material adquirido legalmente pela Anidrol, compra rigidamente controlada pela PF, era desviada para a produção de cocaína e crack. Para justificar a saída dos produtos, eram emitidas notas fiscais falsas e depósitos em nome de laranjas, usando indevidamente o nome da multinacional AstraZeneca.
De acordo com a investigação, foram desviadas cerca de 12 toneladas de produtos como acetona, éter etílico, ácido clorídrico, cloridrato de lidocaína, manitol e fenacetina, substâncias utilizadas para transformar a pasta base de cocaína em pó (cocaína) ou em pedras (crack).
“A gente não pegou a droga, porque essa informação só chegou para a gente em 2021. Então, os produtos já haviam sido desviados”, disse à Folha o delegado Fabrizio Galli, chefe da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da PF, em entrevista anterior.
Ainda conforme a polícia, as investigações tiveram início após a Receita Federal detectar depósito em dinheiro, no valor de R$ 212 mil, aparentemente feitos pela AstraZeneca. A empresa negou, porém, tal movimentação e também ligação com a empresa do influenciador. Deu-se, então, início as investigações.
Ao longo da apuração, Cariani apresentou troca de mensagens com um suposto funcionário do laboratório, Augusto Guerra. A análise telemática demonstrou, contudo, que teria sido Mota, amigo de Cariani, quem havia registrado um domínio na internet em nome da AstraZeneca, com extensão com.br, e criado um email em nome desse funcionário fantasma.
A estimativa da PF que o esquema de desvios de produtos possa ter rendido ao grupo valores superiores a R$ 6 milhões. Na operação do Paraná, Mota era suspeito de lavagem de dinheiro de integrantes do PCC.
A investigação tem o recorte de 2016 a 2020. De acordo com a polícia, novas fases devem ser desencadeadas.
O influenciador e outros suspeitos devem ser denunciados sob acusação de tráfico equiparado e associação para fins de tráfico, bem como pelo crime de lavagem de dinheiro. As penas podem ultrapassar 35 anos de reclusão.