Chegar na vida adulta com cobranças ganhou o nome de “crise dos 25”, onde 75% das pessoas entre 25 e 33 relatam que já passaram, relatando aumento de ansiedade e incerteza na vida profissional. Nessa faixa etária, é muito comum que as pessoas se sintam inseguros com a carreiras, até mesmo quem já optou por uma.
Na adolescência, Alef Dener já projetava como a vida seria quando completasse 25 anos. Imaginava que teria casa própria, carro na garagem e carteira assinada. Agora que a idade chegou, ele se vê morando de aluguel, sem carro na garagem e trabalhando como PJ (pessoa jurídica). Em meio à quebra de expectativas, cobranças e incertezas se acumulam.
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“Nunca teve um momento da minha vida em que eu estive tão ansioso como agora. Por mais que saiba que estou fazendo o máximo, tenho essa cobrança interna de querer algo a mais, mesmo sem saber o que exatamente”, diz ele. Os 25 anos trouxeram ainda uma carga extra de ansiedade.
“Por eu viver em uma república e todo mundo ter essa faixa etária, percebo que não sou só eu que estou mal.”
O aumento da cobrança nesta idade ganhou o nome de “crise dos 25”, momento no qual jovens relatam aumento da ansiedade e das incertezas na vida pessoal e profissional.
Segundo uma pesquisa do LinkedIn, 75% das pessoas de 25 a 33 anos já passaram por essa crise. Divulgada em 2017, o estudo ouviu 6.014 pessoas da Índia, Austrália, Reino Unido e Estados Unidos.
Para 61%, encontrar um trabalho ou uma carreira pela qual sejam apaixonados era a principal causa da ansiedade. Aqueles que estavam incertos sobre os próximos passos na vida pessoal e profissional eram 59%.
Alef diz que se viu mais ansioso em relação ao futuro após ter se formado, em 2020. “A gente se pega em um labirinto sem saber como sair dali”, diz ele, que cursou jornalismo, mas trabalha como publicitário. “A gente sai da faculdade de certa forma desamparado. Você se forma e pergunta: ‘Tá, mas e agora? O que eu vou fazer?'”
Autora do livro “Crise dos 25”, Alexandra Robbins diz que a saída da faculdade costuma assustar porque os estudantes se veem sem roteiro para viver. “A vida real não é como a faculdade, o que pode ser assustador até para os estudantes mais bem-sucedidos, porque ir bem na faculdade não necessariamente leva alguém a ir bem na vida.”
Robbins explica que a chamada crise dos 25 é uma reação à transição da juventude para a vida adulta, fenômeno que pode provocar uma série de efeitos.
“Eles podem ir desde a falta de confiança, que gera depressão, a algo tão sutil quanto olhar para a vida adulta e perguntar: ‘Isso é tudo o que existe? ‘”, diz ela, referindo-se ao sentimento de frustração que pode acontecer ao chegar nessa fase.
REDES SOCIAIS AGRAVARAM O PROBLEMA
O livro de Robbins foi publicado em 2001, um indício de que a crise não é nova. No entanto, diz ela, o que mudou foi a intensidade do fenômeno. O motivo? As comparações provocadas pelas redes sociais.
“A crise dos 25 em última instância se resume a se comparar com o outro” explica a escritora. “Como posts em redes sociais passam por filtros e são glamourizados, eles podem piorar a percepção das pessoas sobre suas vidas pessoais, profissionais e financeiras. Com as redes sociais, tornou-se ainda mais difícil para jovens de vinte e poucos anos sentirem que estão à altura.”
Quando entra no Linkedin, Nilséa Fernandes, 25, se sente em uma corrida na qual considera estar ficando para trás. Desempregada desde março, a jovem passou a usar a rede para se candidatar a vagas, mas a plataforma acabou virando terreno fértil para comparações.
“Nesse processo, eu acabo vendo como a vida das pessoas está andando, e a minha não. Eu tenho o hábito de me comparar e acabo me sentido inferior”, diz a jornalista, acrescentando que a pressão aumentou depois de seu aniversário.
A jovem conta que, para as mulheres, há uma pressão adicional para casar e ter filhos, algo que ela mesma já sente.
“Enquanto procuro emprego, todas as pessoas com quem eu converso falam: ‘E aí? E o casamento.’ Eu estou preocupada com a minha vida profissional e financeira. Mas, enquanto mulher, o que me perguntam é sobre casa e família.”
ECONOMIA PREOCUPA JOVENS
Segundo pesquisa da empresa de consultoria Deloitte, 54% dos jovens da geração Z do Brasil (nascidos entre 1995 e 2003) se sentem estressados e ansiosos o tempo todo ou na maior parte das vezes. O índice é maior que a média global (46%).
Os principais motivos de preocupação são as perspectivas de trabalho e o futuro financeiro a longo prazo. O estudo foi feito no ano passado e ouviu 800 pessoas.
Para o fotógrafo Hiago de Farias, 25, a situação econômica do Brasil de fato preocupa. No final de fevereiro, ele precisou voltar a morar com os pais depois de viver mais de um ano sozinho. O motivo foi o aumento dos preços. “Voltar agora é estranho. Dá uma sensação de frustração. Mas ainda sou grato por poder ter onde ficar.”
Ele também se sente frustrado ao ver o cenário econômico do país após um momento de crescimento econômico. “A gente cresceu num mundo que parecia mais próspero e, agora, lida com um cenário que esmaga a gente em uma situação de tensão.”
Professora do Instituto de Psicologia da USP (Universidade de São Paulo), a psicóloga Leila Salomão Tardivo explica que gerações mais jovens estão expostas a um número maior de elementos estressores, o que explica a disparada da ansiedade e do estresse nesse grupo.
“O aumento da pressão, essa comparação tão intensa que as pessoas fazem, o estímulo à competição e ao corpo jovem são situações que muitas vezes não trazem realização”, diz
De acordo com a psicóloga, a pandemia agravou a angústia dessa faixa etária em razão do aumento do desemprego e da miséria. “Para esses jovens de 25 anos, a pandemia é uma carga de estresse a mais.”
Para aliviar a ansiedade, a pesquisadora sugere que esses jovens se aproximem de pessoas e grupos que gerem sentimentos positivos, e que favoreçam o crescimento pessoal. “Mas se a situação estiver muito intensa, as pessoas precisam buscar ajuda médica e psicológica”, recomenda Tardivo.
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