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‘Décadas atrás, não tinha um preto’: Desabafa atriz de ‘Dona de Mim’

Quem liga a televisão na faixa das 19h e se depara com a novela “Dona de Mim” talvez não imagine a potência por trás da personagem Yara, vivida por Cyda Moreno, 61. O que começou como uma simples identificação de papel virou um símbolo de uma mudança histórica. E não é exagero dizer que a participação da atriz veterana, ao lado de Vilma Melo, Clara Moneke, Nikolly Fernandes e tantos outros talentos negros, representa muito mais do que entretenimento.

Mas antes de entrar na trama, vale uma pausa. O que esse movimento, que traz à tona corpos e vozes antes silenciados, realmente significa? Por que incomoda? E por que ver uma família preta protagonizando uma novela ainda parece “demais” para parte do público?

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“Outro dia vi História de Amor, do Manoel Carlos, no canal Viva. Fiquei olhando a abertura e, cara… não tinha um preto. O país tem maioria da população preta e parda, mas não retrata isso nos folhetins? O Brasil era movido à novela naquela época, tinha um Ibope altíssimo, mas a gente não se via.” Cyda Moreno, em conversa com Splash.

Cyda, que além de atriz é professora de artes em escolas públicas do Rio de Janeiro, vive de perto a consequência dessa invisibilidade: crianças negras que não querem ser negras. A atriz se emociona ao falar sobre isso e sobre a urgência de enxergar o racismo que se perpetua dentro e fora das telas.

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Oportunidade e resistência

A atriz mineira de Sabará, que começou no teatro nos anos 80, tem na fala a mesma firmeza com que pisa no palco. Fundadora da Cia. Black & Preto, ela trilhou uma carreira de resistência, construindo alternativas em um meio que só recentemente começou a se abrir, a duras penas.

Na televisão, já havia passado por A Padroeira (2001) e Amor Perfeito (2023). Mas é em Dona de Mim que Cyda se vê, enfim, num espaço que há décadas foi negado a ela e a tantos outros artistas negros. Na novela, sua personagem Yara criou sozinha as netas Leona (Clara Moneke) e Stephany (Nikolly Fernandes), depois da morte dos pais das meninas. A costureira aposentada agora cuida de crianças do bairro em casa para sobreviver e ainda arranja tempo para curtir a Feira de São Cristóvão. É força e doçura, resistência e leveza. É vida real.

“As pessoas preferem ver atores brancos fracos e ruins do que o negro que está chegando. As pessoas ficam procurando os defeitos… Temos que abraçar as oportunidades e confiar nos nossos ancestrais que trilharam esse caminho. Abraçar e reverenciar os que lutaram nos movimentos negros da década de 1980, que lutaram pelas cotas. As cotas abriram espaço para o pensamento. Faz toda a diferença.” Disse Cyda.

E não para por aí: Dona de Mim também tem atores com deficiência (PCDs), escancarando o que há muito tempo precisava ser dito, diversidade é vida, é potência, é o reflexo de um Brasil que, por décadas, foi deliberadamente ignorado nas grandes produções.

Mesmo com os avanços, Cyda reconhece que o incômodo ainda existe. Parte do público resiste à representatividade, faz críticas, reclama da diversidade: “Lamento, sorry, mas a gente chegou pra ficar e dar continuidade.”

A atriz e a professora

Fora da TV, Cyda também faz história. Atuando em escolas públicas, ela testemunha a realidade dos jovens negros que, como ela no passado, sentem-se deslocados num sistema que insiste em apagá-los.

“É cruel. Você vê uma maioria de alunos negros que não querem ser negros, que não se assumem. Precisamos mostrar que eles podem – e devem – se ver na TV, no cinema, na literatura, onde quiserem.”

Atualmente doutoranda em história do teatro negro pela UNIRIO, ela segue transformando a arte em instrumento de educação e emancipação. Nos palcos, brilhou em espetáculos como “Eu Amarelo, Carolina de Jesus” e “Luiza Mahin… Eu Ainda Continuo Aqui”, ambos dirigidos por Édio Nunes.

Sua trajetória é uma ode à resiliência e à criação de espaços onde antes não havia espaço algum. Cyda fala com a convicção de quem viveu tudo isso por dentro: “A gente se aquilombou. Temos nossas companhias de teatro, produzimos nossos filmes. O avô de Carolina Maria de Jesus dizia, no início do século 20, que se fosse dada ao negro a oportunidade de estudar, esse negro ganharia esse país.”

DOL

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