A substituição da versão impressa de bulas de medicamentos pela digital tem gerado preocupação e levantado discussões sobre acessibilidade e segurança da informação.
A Resolução de Diretoria Colegiada 885 (RDC 885/2024) da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) prevê que, gradualmente, as bulas sejam acessadas, exclusivamente, por meios digitais.
O Projeto de Lei nº 3.846/2021, que autoriza o uso de QR Codes nas embalagens de medicamentos para direcionar o consumidor a uma bula digital, foi aprovado em 2022 pelo Senado. A proposta foi considerada uma modernização da comunicação de saúde. No total, recebeu 52 votos favoráveis, dez contrários e uma abstenção.
No entanto, 81% da população brasileira com 16 anos ou mais se posicionam contra a exclusão da bula impressa dos medicamentos, segundo pesquisa Datafolha, realizada este ano. O Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) defende que a iniciativa pode aprofundar a desigualdade digital no país, uma vez que uma parcela significativa da população ainda carece de acesso regular à internet e habilidades para utilizar tecnologias digitais de forma segura.
Além disso, a medida é apontada como um agravante dos riscos de intoxicação por uso inadequado de medicamentos. Para 83% dos respondentes da pesquisa Datafolha, sem a bula impressa, algum amigo ou parente poderia ter problemas de saúde por falta de informações sobre os medicamentos.
Diferentes situações que exemplificam a preocupação. Quando consumido em excesso, os efeitos do Noripurum incluem sintomas como vômitos, diarreia e dor abdominal, além da possibilidade de lesão hepática, conforme o Manual MSD. O remédio é indicado para o tratamento das anemias nutricionais, mas deve ser consumido com cuidado.
O paracetamol é indicado como analgésico e antitérmico para casos de dores e febre. No entanto, a Anvisa alerta que o uso de forma excessiva pode ocasionar eventos adversos graves, como hepatite medicamentosa e até morte. Por isso, a recomendação é observar a dose máxima diária e os intervalos na bula do medicamento.
De acordo com o Idec, a implementação das bulas digitais não prejudica os consumidores, desde que seja devidamente supervisionada pela Anvisa e oferecida como uma opção adicional, e não como o único meio de acesso às informações sobre o medicamento.
O Ministério Público Federal (MPF) também defende que a adoção da bula digital deve ser uma alternativa, não uma substituição do formato impresso, considerando o elevado índice de automedicação e as dificuldades de acesso à internet e dispositivos digitais que muitos brasileiros enfrentam.
O levantamento do Datafolha mostra que 45% das pessoas gostariam dos dois formatos, enquanto 42% optam apenas pela bula impressa e 11% demonstram preferência pela versão digital.
A Anvisa estabeleceu a implementação do projeto de digitalização das bulas em duas etapas. A primeira, prevista até o final de 2026, engloba amostras grátis e medicamentos destinados a estabelecimentos de saúde, com exceção de farmácias e drogarias.
O documento digital deve apresentar todas as informações necessárias. Por exemplo, um paciente que teve a recomendação médica de uso do anticoagulante Xarelto deve encontrar todas as orientações necessárias ao acessar a bula on-line.
Isso inclui informações sobre o que é, como funciona o Xarelto, prescrição, preparação, administração, advertência e informações para a segurança no uso e um tratamento eficaz.
A versão digital da bula também pode incluir conteúdos multimídia, como vídeos e infográficos, para facilitar a compreensão sobre o uso correto do medicamento.
Após a avaliação dos resultados dessa fase, a Anvisa considera expandir o formato digital para outros tipos de medicamentos em uma segunda etapa, mas sem definição de prazo ou abrangência final.
De acordo com o diretor do órgão regulador e responsável pelo relatório do projeto, Daniel Pereira, a proposta está em conformidade com as tendências internacionais e tem como objetivo promover a modernização e a transformação digital no setor de saúde.
O projeto-piloto informa ainda que, caso sejam solicitadas por pacientes ou profissionais de saúde, as bulas impressas devem ser oferecidas pelos estabelecimentos, que devem informar a possibilidade aos consumidores.
No entanto, o MPF destaca que o texto aprovado não especifica quem arcará com os custos de impressão e quem assumirá a responsabilidade pela fiscalização pública, em caso de descumprimento. Também não é estimado o impacto de um possível aumento na judicialização, caso haja recusa na disponibilização da bula impressa.
O MPF reforça, ainda, que faz sentido que o formato principal da bula seja totalmente digital no futuro. No entanto, explica que uma transição segura exige a implementação de infraestrutura e logística adequadas, para que nenhum local ou grupo social seja excluído do acesso a informações essenciais.
Treinador Pedro Chaves terá a primeira experiência na elite do Parazão | Jorge Luís Totti/PaysanduO…
Agência Brasil
No último dia 19 de dezembro de 2024, por volta das 18h50, na zona rural…
Um homem identificado com José Orlando, de 31 anos, foi morto com um golpe de…
Será lançado neste domingo (15), o documentário "Dançando Além das Fronteiras", o primeiro documentário de…
Na madrugada deste domingo, 22 de dezembro de 2024, ocorreu um acidente envolvendo um animal…
This website uses cookies.