O transplante de órgãos é um ato que pode salvar a vida de muitas pessoas. O sucesso do procedimento exige que exames sejam feitos em doadores e receptores para garantir a saúde de quem irá receber o novo órgão. Esse cuidado e atenção, porém, faltaram no triste caso dos pacientes do Rio de Janeiro que receberam órgãos infectados e foram, posteriormente, diagnosticados com HIV.
Um caso relacionado ganhou espaço nos noticiários nessa semana. Uma mulher de Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, denunciou que recebeu um diagnóstico de HIV falso positivo assim que deu à luz. O exame foi realizado pelo laboratório PCS Lab Saleme, o mesmo laboratório investigado por ter errado nos testes envolvendo os pacientes transplantados diagnosticados com HIV.
A denunciante afirma que o episódio aconteceu na clínica particular NeoMater, em Nova Iguaçu, onde sua filha nasceu prematuramente. No dia do parto, a equipe médica solicitou um exame de HIV. A análise foi realizada pelo laboratório PCS Lab Saleme. O resultado acusou a presença do vírus, apesar da mulher não ser portadora do HIV, conforme relatou ao telejornal RJ2, da TV Globo.
Ela lembrou ainda que recebeu a notícia de ser portadora do HIV quando estava na UTI, pouco após o nascimento da filha.
Como se trata de uma doença infecciosa, a bebê, que atualmente tem um ano, precisou ser submetida a um tratamento com coquetel antirretroviral durante 28 dias. A medida tinha o objetivo de evitar a transmissão do vírus, mas o diagnóstico acabou sendo desmentido após novos exames em outro laboratório, que confirmaram que a mãe não era portadora do HIV.
Caso de polícia
A denúncia foi formalizada na 56ª DP (Comendador Soares), que investiga o caso. “Eu estava sozinha na UTI quando o médico informou o resultado positivo e disse que minha filha já estava recebendo o coquetel. Uma criança que nasceu de 35 semanas começou a ser tratada praticamente no primeiro minuto de vida”, contou a mãe em entrevista.
A mulher relata que o erro a traumatizou, especialmente porque foi impedida de amamentar a filha. “Era meu sonho amamentar, mas eu não podia. Secaram meu leite. Até hoje, se vejo uma mãe amamentando, fico triste por não ter tido essa oportunidade com a minha filha. Espero que os responsáveis sejam punidos para que isso não aconteça novamente”, desabafou.
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O laudo que apontou o falso positivo foi assinado por Walter Vieira, um dos sócios do PCS Lab Saleme. Vieira foi preso durante a Operação Verum, que investiga laudos de falso negativo para HIV em doadores de órgãos, levando à infecção de pacientes transplantados no Rio de Janeiro. Após os novos exames que descartaram a infecção, a mulher registrou um boletim de ocorrência e estuda a possibilidade de processar a maternidade e o laboratório.
A denúncia de falso positivo ocorre em meio a uma investigação mais ampla sobre erros em exames de doadores de órgãos. Pacientes transplantados no Rio foram infectados com HIV após exames feitos pelo mesmo laboratório apresentarem resultados de falso negativo. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde do Rio (SES-RJ), os casos foram descobertos após um paciente, que havia recebido um coração nove meses antes, apresentar sintomas neurológicos e testar positivo para HIV.
A SES-RJ confirmou seis casos de infecção em transplantados e instaurou uma sindicância para identificar e punir os responsáveis. Em nota, a secretaria informou que medidas foram tomadas para garantir a segurança dos pacientes e suspendeu os serviços do PCS Lab Saleme. “Este é um caso inadmissível e sem precedentes”, afirmou a SES-RJ, destacando que o serviço de transplantes no estado sempre foi referência, com mais de 16 mil vidas salvas desde 2006.
A NeoMater, em nota enviada à TV Globo, afirmou que não comenta casos específicos por questões de sigilo médico. Já o PCS Lab Saleme declarou ao UOL que cabe aos hospitais informar os resultados dos exames, mas não explicou o motivo do erro no diagnóstico da mulher.
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