Estima-se que até 2025 o Brasil tenha mais de 73 mil novos casos de câncer de mama, segundo o relatório mais recente do Inca (Instituto Nacional de Câncer). A doença costuma ser vista como uma sentença de morte, mas é possível ter uma vida com qualidade após o diagnóstico.
A designer Carolina Magalhães, 37, natural de Salvador, foi diagnosticada com câncer de mama aos 29 anos, enfrentando um reaparecimento da doença durante o tratamento. Após quatro anos de hormonioterapia, ela fez uma pausa para tentar engravidar. Conseguiu e deu à luz seu filho Guilherme.
“Faço acompanhamento anual, como qualquer outra mulher que não teve câncer. Mas sempre brinco que, apesar de todos dizerem que ao terminar o tratamento a vida volta ao normal, a verdade é que não existe vida normal após o câncer. Tudo muda –sua mente, seus interesses, suas prioridades. E isso mudou muito em mim.”
A médica Abna Vieira, formada pela Universidade Federal de Juiz de Fora e oncologista clínica com foco em diversidade e combate à disparidade racial no tratamento do câncer, lembra que muitos casos de câncer, incluindo o de mama, podem ser curados, especialmente quando diagnosticados precocemente.
Mesmo nos casos metastáticos é possível viver com qualidade de vida por muitos anos, mantendo hábitos saudáveis e controlando sintomas com medicação adequada, completa a especialista.
“Mais de 95% dos casos têm cura, mas ainda existem cerca de 5% que podem não ser curáveis”, diz a médica à reportagem durante a terceira edição da AMPIC para câncer de mama, evento promovido pela Novartis Brasil.
Viera também explica que o foco do tratamento é garantir qualidade de vida, sem grandes restrições, mas incentivando hábitos mais saudáveis. Prática de atividade física, alimentação equilibrada e redução do consumo de álcool melhoram a resposta à terapia e ajudam a prevenir a progressão da doença.
Carolina Magalhães afirma que, antes do câncer, não pensava em qualidade de vida e vivia de forma automática. Não pensava a longo prazo sobre sua saúde ou envelhecimento. Após o diagnóstico e a convivência com outras mulheres na mesma situação, passou a valorizar mais sua saúde e percebeu a necessidade de se cuidar.
A designer conta que mudou sua perspectiva sobre a vida após a doença. “Sinto que o câncer me ensinou muito e me transformou profundamente. Hoje sou uma mulher completamente diferente daquela que fui antes do diagnóstico”, afirma.
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A comunicadora Jussara Del Moral, 60, natural de São Paulo, usa as redes sociais como canal de comunicação para auxiliar mulheres que estão passando pela situação que ela passou.
Diagnosticada com câncer de mama aos 42 anos, em 2007, Del Moral enfrentou metástase nos pulmões, ossos, cérebro e fígado, passando por múltiplos tratamentos, incluindo quimioterapia e radioterapia. A experiência a inspirou a criar um canal no YouTube, onde há nove anos compartilha sua rotina de vida com um câncer incurável.
“Meu objetivo é mostrar que é possível viver bem, mesmo com câncer. Apesar de meu câncer estar em um estágio incurável e eu estar em tratamento paliativo [cuidado médico focado em melhorar a qualidade de vida de pacientes com doenças graves ou incuráveis], não curativo, o tratamento me ajuda a viver mais e com qualidade”, diz.
Jussara Del Moral também ajuda seus seguidores a lidar com os parentes diante de um diagnóstico de câncer, uma vez que muitos geralmente não sabem como agir ao receber a notícia.
“É importante mostrar que o câncer não é algo leve ou bonito. Não conto minha história para emocionar, mas sim porque essa é a minha realidade.”
A modelo Gislene Charaba, 36, do interior de São Paulo, também usa plataformas digitais para compartilhar sua experiência e lutar por acesso a tratamentos no SUS.
“Fui diagnosticada com câncer metastático aos 29 anos e, apesar de ter realizado uma cirurgia, continuo em acompanhamento constante. Ainda não recebi alta e, como estou em remissão, considero-me uma ex-paciente, mas com a possibilidade de ser novamente no futuro.”
Ela fala sobre a culpa que muitas vezes é associada ao câncer de mama e faz uma reflexão sobre os estereótipos femininos. Vivendo sozinha, ela precisou criar uma rede de apoio, onde administra cinco grupos, ajudando outras pessoas que enfrentam o câncer.
Charaba diz que sua relação com a autoestima teve que ser redescoberta após o câncer. Ela passou por uma cirurgia, pois a doença havia se espalhado para o esterno, o osso no centro do peito, e foi preciso remover 73% do esterno e um quadrante da mama.
Como modelo, ela conta que perdeu muitos trabalhos por conta da cicatriz. Gislene Charaba reconhece a importância de se expressar, especialmente agora, durante a menopausa, e entende que, embora ninguém esteja emocionalmente bem o tempo todo, é importante não se deixar levar apenas pelo sofrimento.
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