Em apenas 4 anos, os bens declarados à Justiça Eleitoral pelo prefeito de Ananindeua, Daniel Barbosa Santos, aumentaram 138%, saltando de R$ 2 milhões para mais de R$ 4,8 milhões. Mas entre o início de seu mandato, em janeiro de 2021, e o último mês de junho, os salários do prefeito somaram apenas R$ 540 mil, já incluído o 13º e com o cálculo tendo por base a sua remuneração atual.
Em relação a eleições anteriores, o aumento impressiona ainda mais. Em 2012, quando se elegeu vereador pela primeira vez, Daniel disse possuir apenas uma Toyota de R$ 65 mil. O que significa que o seu patrimônio atual é 7.360% maior do que há 12 anos (como se tivesse crescido uns 600% ao ano). Em 2016, quando se reelegeu vereador, ele não declarou nenhum bem. Já em 2018, quando se elegeu deputado estadual, disse possuir um patrimônio de apenas R$ 351.445,54.
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Daniel Barbosa Santos, que é candidato à reeleição, é o mais rico entre os 6 concorrentes à prefeitura de Ananindeua, o segundo maior colégio eleitoral do Pará, com 357.500 eleitores, atrás apenas de Belém. Como mostrou o DIÁRIO, há fortes indícios de que a fortuna do prefeito é várias vezes maior do que a declarada à Justiça Eleitoral: em um cálculo bem por baixo, alcançaria cerca de R$ 30 milhões.
Em um cálculo um pouco mais realista, mais de R$ 50,7 milhões. Na sua declaração de bens não constam, por exemplo, os dois aviões que comprovadamente possui, e que valem R$ 18 milhões, ou mais de 3 vezes o que declarou. O primeiro é um jatinho vendido pela Textron Aviation, ano 1999, com 8 assentos, adquirido em março do ano passado, que custa 2 milhões de dólares, ou mais de R$ 10 milhões. O outro é um King Air, fabricado pela Beech Aircraft, ano 1981, com 10 assentos, que custa cerca de 1,5 milhão de dólares, ou cerca de R$ 8 milhões.
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Os dois aviões não aparecem na declaração de bens do prefeito porque estão em nome da Agropecuária JD Ltda (CNPJ 34.381.158/0001-70), da qual ele é o único sócio. Assim, segundo um advogado ouvido pelo DIÁRIO, o prefeito não precisou colocar as aeronaves em seu próprio nome. E qual o valor da Agropecuária JD que Daniel declarou à Justiça Eleitoral? Apenas R$ 100 mil, ou seja, o capital social da empresa.
É semelhante ao que acontecia com o Hospital Santa Maria de Ananindeua (CNPJ 17.454.167/0001-25), do qual Daniel foi sócio, de 2014 até maio de 2022. Nesse período, enquanto ele ascendia na carreira política, o faturamento do hospital saltou de R$ 13,3 milhões, em 2014, para R$ 156 milhões, em 2022, em valores atualizados pelo IPCA de janeiro deste ano. Mas, em 2020, ele declarou que a parte que lhe pertencia no Santa Maria valia apenas R$ 400 mil. Ou seja, a metade do capital social.
Hoje, Daniel Santos e seu ex-sócio no Santa Maria, o empresário Elton dos Anjos Brandão, estão sob suspeita de envolvimento com uma suposta quadrilha, que teria desviado mais de R$ 261 milhões do Instituto de Assistência dos Servidores do Estado do Pará (Iasep), para aquele hospital, entre 2019 e meados do ano passado.
Segundo o Ministério Público do Pará (MPPA), que ajuizou um Procedimento Investigatório Criminal (PIC) sobre o caso, as fraudes que levaram a esse desvio incluiriam superfaturamentos de até 1000%, nos preços cobrados pelo Santa Maria por serviços que realizava para o Iasep, o plano de saúde do funcionalismo público estadual. O PIC tramita em segredo de Justiça. Mas já se sabe que os suspeitos vêm perdendo recursos ajuizados no Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília, para trancar imediatamente a investigação, que, segundo eles, conteria irregularidades.
Quando se comparam as declarações de bens do prefeito, em 2020 e em 2024, percebe-se que o seu crescimento patrimonial ocorreu, basicamente, pela inclusão de duas propriedades rurais, que ele avaliou em R$ 2,8 milhões (somadas), sem especificar tamanhos ou localização. Além delas, ele só declarou mais uma fazenda, no município de Tomé-Açu, que disse valer R$ 350 mil.
Mas o DIÁRIO localizou nos sistemas da Semas, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente, 5 fazendas, que somam quase 1.800 hectares, nos CPFs de Daniel, da esposa dele, a deputada federal Alessandra Haber, e da mãe dele, Deuseny Barbosa Santos. Por causa de uma das fazendas que está no CPF de Alessandra, aliás, o bem chegou a ser multado em R$ 1,4 milhão pelo Ibama, em outubro do ano passado, por “destruir 279,75 hectares de floresta nativa do bioma Amazônico, objeto de especial preservação, sem autorização da autoridade ambiental competente”.
Pelas coordenadas geográficas, esses 1.800 hectares (18 quilômetros quadrados) parecem formar uma grande área contínua, em Tomé-Açu, sede também da Agropecuária JD. Na internet, o valor mais barato que o DIÁRIO encontrou, para fazendas naquele município, foi de R$ 5.500,00 por hectare. Isso significa que esses 1.800 hectares valeriam, no mínimo, R$ 9,9 milhões. Mas, em julho de 2022, a Exagro Consultoria afirmou, em seu Instagram, que a fazenda da Agropecuária JD, em Tomé-Açu, possuía 4.200 hectares de área de pasto, além de 4.869 cabeças de gado.
Na época, a Exagro, que é do estado de Minas Gerais, havia sido contratada para realizar o planejamento das atividades da Agropecuária JD, o que exige informações precisas. Assim, só a área de pasto daquela fazenda valeria mais de R$ 23 milhões (R$ 5.500,00 vezes 4.200 hectares). Já as cabeças de gado valeriam cerca de R$ 9,7 milhões, vez que o valor mais barato que o DIÁRIO localizou foi de R$ 2.000,00 por cabeça de gado.
Então, somados os R$ 18 milhões dos 2 aviões comprovados, com os R$ 23 milhões da fazenda e os R$ 9,7 milhões do gado, informados pela Exagro, a fortuna do prefeito e familiares estaria hoje em R$ 50,7 milhões, fora os veículos, casa, terrenos urbanos, aplicações financeiras e dinheiro em espécie que constam na declaração de bens dele neste ano.
E fora, também, os cavalos da raça mangalarga marcha picada, que a Agropecuária JD vem comprando, através de leilões e do Haras Cibele Fraga, do estado de Sergipe, como mostram várias postagens nas redes sociais. São cavalos caros, especialmente os garanhões, que podem chegar até a R$ 60 mil. E só daquele Haras, o prefeito comprou uns 10 desses cavalos. Entre eles, um garanhão, o “Xuá da Chacrinha”. Uma venda que deixou o dono ou funcionário do Haras tão empolgado, que ele até gravou um vídeo dizendo, ao mostrar o cavalo: “Olha aí, doutor Daniel, o seu novo brinquedinho, o Xuá da Chacrinha”.
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