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Salários no agro podem chegar a R$ 25 mil

Quando se analisam as projeções para o mercado de trabalho neste ano, o cenário é positivo para quem se prepara para atuar no agro. A edição mais recente do Guia Salarial da Robert Half destaca o agronegócio como o segmento líder na demanda por profissionais qualificados em 2024, com perspectivas salariais que podem variar de R$5 mil a até R$25 mil, considerando a remuneração fixa.

A diretora associada da Robert Half, empresa global de recrutamento com atuação também no Brasil, Maria Sartori, destaca que o agronegócio é um segmento que, por característica própria, costuma demandar profissionais das mais diversas áreas de formação e, no cenário atual, mais do que isso, fatores externos também têm contribuído para que o agro seja colocado na posição de liderança na demanda por profissionais qualificados em 2024. “Além de ser um segmento que movimenta a cadeia como um todo, demandando profissionais para as mais diversas áreas, os desdobramentos da guerra na Ucrânia, responsável por um impacto direto na produção de milho e trigo, favorecem um ‘boom’ nas áreas de produção, processamento e distribuição”.

Diante deste cenário, ela considera que os cargos apontados pelo Guia Salarial da Robert Half como os mais demandados estão ligados principalmente à profissionalização do agronegócio, favorecido também pelo forte crescimento do setor até meados de 2023. Entre as profissões em alta no agro no país, o guia destaca gerente de fazenda, representante técnico de vendas (RTV), cientista de dados, operadores de drones e assistente técnico de vendas (ATV). “Outro ponto relevante está na chegada de novas tecnologias, que vêm acelerando transformações e caminham junto à ascensão das Agtechs”, explica Maria Sartori. “Portanto, candidatos com capacidade de adaptação às ferramentas tecnológicas que estão surgindo já são e continuarão sendo muito valorizados pelo mercado. Há também uma forte demanda por profissionais especializados em produtos, equipamentos e serviços específicos”.

Maria Sartori, diretora associada da Robert Half |Divulgação

A especialista destaca, ainda, que tem sido comum que as empresas do setor disputem os mesmos talentos. Um exemplo prático, segundo ela, está nas áreas de produção de grãos, indústria de fertilizantes e agropecuária, que buscaram por profissionais com perfis semelhantes ao longo do ano, o que acirrou a disputa pelos melhores talentos. Situação essa que deve se manter em 2024. “Além disso, influenciadas pela onda de investimentos do exterior (multinacionais), o domínio de um segundo idioma, especialmente o inglês, é uma competência cada vez mais esperada desses profissionais”.

As habilidades e competências exigidas pelo mercado podem ser recompensadas quando se analisam as projeções de remunerações previstas para os cargos em alta para o setor. Considerando alguns fatores como formação, nível de qualificação e experiência, as remunerações fixas podem variar de R$5 mil a até R$25 mil. “A depender da área, porte do contratante e nível de experiência/qualificações do candidato, as remunerações no agronegócio podem ser bastante atrativas. As perspectivas salariais são baseadas em insights das salas de entrevistas, além de salários já pagos em 2023. É importante reforçar que os valores representam a remuneração fixa, sem considerar benefícios e bônus”. [confira as previsões de remuneração no box]

DEMANDA

Quando se analisa o cenário regional, a demanda por profissionais que tenham uma formação voltada para o uso de ferramentas tecnológicas a serviço do agro também é uma realidade, mas, para além disso, a região guarda a necessidade de profissionais qualificados para atuar de acordo com as características e especificidades dos Estados, considerado área recente da expansão da fronteira agrícola.

Doutora em agronomia e professora da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), Leila Sobral Sampaio destaca que, para a região do Estado do Pará, ainda se observa a necessidade de gerar tecnologias iniciais, ainda não desenvolvidas, como é o caso dos agrossistemas adaptados às condições dos ambientes locais. “Acredito que a maior demanda (no Estado) é por profissionais mais qualificados em termos de visão da prática agrícola de forma mais holística, vendo um sistema como um todo, incluindo o produtor, de modo que a gente consiga trabalhar essas novas tecnologias, que é a forma de fazer apropriada”, considera. “A gente tem as nossas limitações de ambiente, nós não temos radiação o ano todo, nós temos um período de muito baixa radiação porque nós temos muita nebulosidade no verão, o nosso problema não é falta de água, é o excesso de água, então, se a gente não começar a adaptar não vamos conseguir avançar, tanto na pequena unidade familiar, quanto na grande”.

Leila Sampaio, pesquisadora |Mauro Ângelo/ Diário do Pará.

A professora considera a importância da agricultura de precisão para que seja possível manter uma boa produtividade gastando menos insumos. E para que isso seja possível, é preciso ater às condições de clima e solo da região, adaptando as tecnologias existentes para a realidade local, ao invés de apenas adotar modelos já existentes e que são voltados para outras condições. “A gente vê a cultura da soja, que está crescendo em área plantada, mas que não consegue avançar em produtividade. Os modelos de crescimento de planta apresentam a possibilidade de dobrar a produtividade de 50 para 100 sacas, mas a gente tem dificuldade de fazer isso porque existem limitações que não são consideradas pelos modelos, como, por exemplo, o excesso de água na safra de grão, o nosso solo que é muito argiloso e isso acaba limitando o sistema, ao passo que se você colocar culturas em sucessão e rotação e capilarizar bem esse sistema você melhora a dinâmica desse solo”, exemplifica. “São diferenças que a gente tem das outras localidades e que precisam de profissional qualificado para atuar dentro da nossa realidade porque é preciso conhecer, é preciso olhar para o céu, é preciso olhar para o solo e é preciso conhecer as culturas. E integrar isso é difícil. Mas o campo ensina e é assim que a gente tenta trabalhar com os nossos alunos”.

Entre as frentes de trabalho desempenhadas na instituição, visando a formação qualificada de profissionais que, futuramente, poderão atuar no mercado do agro, a professora destaca um projeto didático que visa estimular e experienciar essa nova forma de produção que é mais adequada para a região, os agroecosistemas de produção. “Já que a gente tem energia o ano todo e tem chuva o ano todo, a gente quer estabelecer um agroecossistema de produção, integrando produção de grãos e forrageiros, no sentido de recuperar a área, principalmente uma área que tem problemas devido ao histórico de mau uso, e também ter uma referência de produção dentro desse nosso ambiente. Então, a gente pega disciplinas bem iniciais do curso de agronomia, como agricultura geral, que trabalha conceitos de agricultura, e mostramos que existem diferentes formas da gente produzir”, explica.

“Por exemplo, nessa área a gente semeou o ingazeiro (Inga edulis), uma planta que descompacta o solo e é considerada “bomba biológica” pois favorece diversos serviços ambientais para o sistema, e a gente semeou junto com os alunos faixas de milho, macaxeira, soja e vamos fazer mais posteriormente faixas de forrageiras. Esse é um trabalho que a gente desempenha aqui de modo a avançar na formação dos nossos alunos para atuar no Estado de modo a experienciar outras formas de produção problematizada porque o nosso ambiente é muito diferente. A gente tem uma taxa de desenvolvimento das plantas muito acelerada, então, isso faz com que a gente tenha possibilidade de combinar diversas culturas, de combinar diversos sistemas, de trabalhar o que a gente realmente vê na academia e não apenas incorporar muitas tecnologias que vêm de outras regiões e que acabam fazendo com que a gente não avance”.

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