Quando ouviu de seu primo que um homem se levantara do chão sem nenhum machucado depois de ter girado de cabeça para baixo durante quase cinco minutos na praça de São Braz, em Belém, Leony Pinheiro, então com 12 anos, ficou impressionado. “A gente foi até lá para ver, e eu simplesmente me apaixonei”, diz ele à Folha de S.Paulo. “É isso o que eu quero fazer na minha vida”, lembra o paraense sobre o que pensou naquele dia.
O jovem, que na época trabalhava como reparador de bicicletas – “em São Paulo seria como um flanelinha, mas de bicicletas” -, havia acabado de ter seu primeiro contato com o breaking. Nas semanas seguintes, Leony e seu primo deixaram o futebol e o caratê de lado e passaram a frequentar a praça, onde cerca de 150 pessoas se reuniam para ensaiar seus passos de dança.
Não demoraria muito para ele deixar de ser apenas um observador e passar a desenvolver os próprios movimentos. “Logo que comecei a praticar, foi muito fácil para aprender.”
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Também o motiva a possibilidade de empregar um estilo próprio à dança de rua criada na década de 1970 em Nova York. Leony costuma buscar referências da cultura, da dança e da música do Pará, principalmente o tecnobrega, para criar seus movimentos.
Nascido e criado no estado, de onde não quer sair, apesar de ter recebido propostas para morar em São Paulo, no Rio de Janeiro e fora do país, ele também deseja usar a dança para ajudar a desenvolver o bairro em que cresceu, chamado Quarenta Horas (em Ananindeua, na Grande Belém).
“Aqui, chamam de invasão, mas esse bairro é como se fosse uma favela do Rio de Janeiro”, conta. “Graças à visibilidade que a gente teve, a prefeitura finalmente vai asfaltar uma rua, e fui chamado para inaugurar.”
Ele mesmo tenta ajudar, dando aulas de dança para crianças em um projeto social. “Sou um cara que defende muito a nossa regionalidade. O Brasil é um país muito cultural. Cada região tem a sua particularidade. Defendo que a gente honre essas particularidades”, afirma. “Sou do Pará e levo a minha cultura para onde eu vou.”
Hoje, aos 28 anos, Leony tem como sonho levar o breaking misturado com tecnobrega aos Jogos de Paris, onde a dança de rua vai estrear como modalidade olímpica.
A capital francesa é um lugar especial para Leony. Quando tinha 15 anos, ele fez sua primeira viagem internacional justamente para a França, onde teve a chance de competir com B-Boys e B-Girls (como são chamados os homens e mulheres do esporte) que ele só conhecia por DVD, participou como figurante do filme “Batalha do Ano”, com o rapper norte-americano Chris Brown, e ganhou seu primeiro cachê.
“Foi muito louco ver como fomos tratados lá. Era uma parada totalmente diferente do que é aqui no Brasil. O breaking é muito forte na França, e não é de hoje. Tem muitos anos que o governo de lá investe, apoia e incentiva”, observa.
No ano seguinte, Leony foi indicado para participar do documentário “Red Bull Under My Wing”, organizado pelo B-Boy brasileiro Pelezinho, que convidou destaques da nova geração no Brasil para mergulhar nas raízes do hip-hop e do breaking, além de disputar um lugar no Red Bull BC One, maior torneio individual do mundo entre B-Boys e B-Girls . Em 2013, aos 17 anos, o paraense ganhou seu primeiro título do Red Bull BC One Brazil, feito que repetiria em 2016, 2017, 2022 e 2023.
Pelezinho se tornou um grande admirador do paraense e torce para que ele possa representar o Brasil em Paris. Ele também espera que o breaking possa aproveitar a estreia olímpica para crescer ainda mais, como aconteceu com o skate, que estreou nos Jogos de Tóquio.
“Querendo ou não, o skate sempre teve uma visibilidade, conquistada por eles mesmos, pelas marcas que apoiavam e patrocinavam. Quando teve a Olimpíada, eles já estavam mais preparados”, afirma Pelezinho à Folha de S.Paulo. “Por isso sou a favor do breaking nos Jogos, porque sempre imaginei o boom que poderia ter.”
Leony é o único brasileiro ainda com chances de buscar uma vaga no circuito olímpico. Ele vai participar das duas últimas etapas qualificatórias, em Xangai, na China, de 16 a 19 de maio, e, depois, em Budapeste, na Hungria, de 20 a 23 de junho. Apenas os sete primeiros colocados de cada gênero vão ganhar uma vaga em Paris.
A nova modalidade olímpica terá 32 atletas, 16 homens e 16 mulheres, respeitando uma cota máxima de dois B-Boys e duas B-Girls por país. A França, país-sede, já tem garantidas duas vagas, uma por gênero. “Não é fácil, é muito difícil, porque agora a gente só tem os 40 melhores do mundo, e, sendo bem sincero, não estou entre os dez melhores do mundo. Talvez no top 16 do mundo eu esteja”, reconhece.
“A classificação já seria algo incrível. Não que a gente se contente com uma classificação, mas é importante a presença do Brasil nesse momento histórico [para o breaking].”
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