Resultados de uma pesquisa feita a pedido do Ministério da Saúde, liderado pelo Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre, por meio do Proadi (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS), mostram que um quinto das meninas brasileiras que engravidaram na adolescência não sabem como se prevenir e a mesma fração volta a engravidar antes de atingir a maioridade. O estudo foi feito com 1.177 mulheres das cinco regiões do país, usuárias do Sistema Único de Saúde, para pautar novas ações de prevenção da gravidez nesta faixa etária.
Conforme a pesquisa, nascem, por dia, cerca de mil bebês filhos de mães adolescentes no Brasil, que possui uma taxa de 43,1 nascimentos para cada mil adolescentes, mais que o triplo dos países europeus e da América do Norte (12,57).
Mães com idade entre 10 e 19 anos foram avaliadas e comparadas a mães de 20 a 29 anos. Na avaliação, foi constatado que 2,12% foram mães entre 10 e 14 anos, o que é considerado estupro de vulnerável mesmo em casos de consentimento. Foram mais de 14 mil nascimentos nessa faixa etária em 2022.
A anemia foi a condição de saúde mais observada em mães adolescentes, o que, segundo pesquisadores, pode ter sido decorrente de consultas pré-natais tardias em menor número ou mesmo de condições de saúde prévias.
As mães adolescentes entrevistadas tiveram a primeira relação sexual com idade média de 14 anos, com a primeira gestação aos 16. Entre as mães adultas, a primeira relação foi por volta dos 16 anos, com a primeira gravidez aos 22.
A maioria das meninas (64,49%) relata que engravidou “sem querer”. Entre as adultas, a taxa é menor (51,5%). Segundo o estudo, a ausência de educação e de informações sobre sexualidade são fatores que contribuíram para a gravidez não planejada em 21,3% das mães adolescentes.
Conforme dito pelas entrevistadas, as informações que tinham sobre sexualidade eram ausentes e confusas. “Menos de 10% delas se referiram que essas informações vieram a partir de profissionais da saúde. A gente espera que os dados sirvam de subsídios para políticas de prevenção”, diz o pediatra Tiago Dalcin, líder do projeto Adolescentes Mães do Hospital Moinhos de Vento.
Falar sobre sexualidade com os jovens ainda é um tabu. “Ainda há uma grande dificuldade de as pessoas entenderem que educação sobre sexualidade de maneira alguma é estímulo ao início da atividade sexual. É uma fake news que a a gente precisa combater”, completa.
Um quarto das mães adolescentes (25%) foi abandonada pelo pai da criança ao descobrir a gravidez e 10% não mantiveram vínculo com o parceiro. Entre as mães adultas, isso aconteceu com 15,4% e 4,3%, respectivamente. A falta de apoio da família na descoberta da gravidez foi relatada por 8,8% das adolescentes.
A gravidez também trouxe prejuízo para a vida social das meninas: 65% consideram que a vida ficou mais difícil, 58% perderam amigos após a gestação e 17% consideram que a gravidez foi o pior período da vida.
A maternidade na adolescência também tem relação direta com o abandono dos estudos. Mais de dois terços (67%) das mães não estavam estudando quando o filho nasceu e 79% não estavam estudando no momento da pesquisa.
“Elas são abandonadas pelos parceiros, elas abandonam os estudos, é um ciclo que se perpetua e que leva à recidiva da gravidez na própria adolescência. É um caldeirão de coisas”, diz Dalcin.
A vida social também foi prejudicada: 58% perderam amigos após a gestação, 65% consideram que a vida ficou mais difícil e 17% consideram que a gestação foi o pior período da vida.
Mas, segundo o pediatra, a situação é muito complexa. Há meninas que vivem em um contexto social tão vulnerável, vivendo em situações de abuso, que enxergam na gravidez um projeto de vida, algo que poderá melhorar a sua situação. “Por isso não podemos jogá-las no mesmo saco e julgá-las”, afirma.
Quase 40% das mães adolescentes entrevistadas disseram que queriam ser mães. “Será que a gente não tem que trabalhar melhor com essas meninas os projetos de vida?”
O estudo também mostra que que as mães adolescentes tinham uma alta prevalência de depressão, ansiedade e estresse (61,9%, 63,8% e 55,7%, respectivamente). Entre as mães adultas, as taxas foram de 50,5%, 51,6% e 49,1%.
A cada dez adolescentes com diagnóstico de depressão e/ou ansiedade, apenas quatro faziam acompanhamento.
Por: O liberal
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