O mundo está cada vez mais populoso. E também mais velho. O número de pessoas com 65 anos ou mais no planeta, hoje cerca de 761 milhões, deve mais que dobrar até a metade do século, chegando a 1,6 bilhão em 2050.
Os dados fazem parte de projeções que a ONU divulgou no ano passado, quando o fato de termos chegado a 8 bilhões de habitantes dominou as discussões. Agora, a organização alerta que é preciso falar sobre o envelhecimento populacional –e que o tema é urgente.
Ter uma fatia maior de idosos, claro, é um bom indicador. O fato de que aqueles com mais de 65 são 9,6% do mundo de 8 bilhões, enquanto serão 16,5% dos 9,7 bilhões de 2050, reflete entre outras coisas sociedades bem-sucedidas no alargamento da expectativa de vida.
Se o envelhecimento, porém, não vier acompanhado de políticas públicas consistentes –pensadas desde a infância, e não somente na velhice–, o fenômeno será gatilho para sociedades mais desiguais e empobrecidas, afirma a ONU em relatório lançado nesta quinta (12).
A análise dos dados permite um alerta para o Brasil. Hoje os idosos (20,5 milhões) somam 9,5% da população brasileira. No meio do século, serão 22% do total –cifra acima da média global–, caso se confirmem as projeções da ONU para o país.
O número não é tão expressivo quanto o observado em outras regiões, mas não deixa de chamar a atenção. Na Europa, por exemplo, onde a questão já é sensível, idosos representam 20% da população atualmente. Daqui a 20 anos, serão quase 30% do todo, o que abre discussões que vão de aposentadoria a falta de mão de obra.
No guarda-chuva de preocupações expressas pelas Nações Unidas está o mercado de trabalho. Pessoas mais velhas seguem contribuindo economicamente –muitos permanecem em empregos remunerados, ou mesmo contribuem dentro da família com assistência aos filhos.
Ainda assim, estereótipos no setor do emprego, como o preconceito etário, são empecilhos. E outro fenômeno, que cresce à galope no Brasil, também preocupa: a informalidade. “A ampla propagação do emprego informal e de outras formas precárias de trabalho ameaçam o acesso à aposentadoria e outros benefícios de proteção social, colocando em risco a segurança econômica de idosos”, diz o relatório.
Idosos têm maior probabilidade de viver em domicílios com menor infraestrutura do que a população em idade produtiva, uma realidade ainda mais comum em países em desenvolvimento, nos quais sistemas de proteção social estão menos estabelecidos., diz a ONU.
A situação é pior para as mulheres. Níveis de pobreza na velhice são mais elevados entre elas, informa a organização. O motivo? Níveis mais baixos de participação no mercado de trabalho formal, carreiras mais curtas e salários mais baixos em comparação com homens.
A ONU chama especial atenção para a distribuição desigual do trabalho doméstico, o que restringe a possibilidade de mulheres atuarem mais ativamente no mercado de trabalho e, por consequência, enxuga suas aposentadorias. Lembra também que elas a são maioria das empregadas na economia de cuidado, “uma área mal regulamentada, onde trabalhadores normalmente ganham salários baixos”.
“E, dadas as expectativas de vida mais longas das mulheres, elas têm maior probabilidade do que os homens de ficarem viúvas, são menos propensas a se casar novamente e mais propensas a viver sozinhas -três características que podem exacerbar a insegurança econômica.”
Além da ceara econômica, o relatório destaca a necessidade de aprimorar sistemas de saúde. Segundo a ONU, muitas nações ainda se fiam à ideia de que idosos moram com filhos ou netos, realidade que tem mudado. “Modelos de cuidados que dependem exclusiva ou principalmente das famílias são cada vez mais inadequados.”
E a pandemia de Covid evidenciou as falhas no atendimento à idosos. “Sistemas de cuidado subfinanciados, condições precárias de trabalho das equipes de saúde e políticas insuficientes de cuidados em casa contribuíram para um alto número de mortes entre idosos”, diz a ONU.
O desafio do envelhecimento populacional também atinge as regiões de diferentes formas. A maioria terá cerca de um quinto de suas populações com mais de 65 anos em 2050: América Latina e Caribe (19%), Oceania (18,5%), América do Norte (24%) e Ásia (19%). A exceção fica com África: o continente mais desafiado por altos índices de natalidade terá somente 5,7% de seus habitantes nessa faixa etária.