Com uma aprovação recorde nas urnas e sendo o primeiro governador do Pará eleito em primeiro turno desde a redemocratização, Helder Barbalho (MDB) segue para mais quatro anos bem mais confiante do que era quando ocupou o cargo pela primeira vez, em 2019. Dessa vez acompanhado da ex-secretária de Planejamento e Administração (Seplad), Hana Ghassan, como vice, ele garante ter ciência de que há muito ainda a ser feito, e também que tem seus focos bem definidos.
Mais concursos, mais interiorização das especialidades médicas, melhores índices para a Educação, atenção especial ao Marajó, que tem os piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDHs) do Brasil, geração de emprego e renda com a floresta em pé, tudo isso está no radar de Helder para o próximo mandato – sem deixar de olhar mais à frente sobre como irá contribuir com o desenvolvimento do Pará a partir de 2027.
Regularização fundiária bate recorde no Pará em 2022
Confira a entrevista completa para o DIÁRIO:
P: As mudanças no secretariado começaram, o que motiva essas mudanças?
R: Eu tenho muita humildade de interpretar o resultado das urnas. Não é porque eu tive 70% dos votos que eu posso achar que o governo não pode ser melhor, e acho que sempre o governo deve ser melhor. Deve melhorar, deve buscar superar isso, inclusive é o meu grande desafio junto com (a vice-governadora) Hana (Ghassan), e a população nos deu esse crédito por compreender que nós somos capazes de avançar nas mudanças e prosseguir nas transformações que tivemos capacidade de realizar. A partir daí, nós, eu particularmente, identifico algumas questões que merecem a minha atenção e a minha priorização. Particularmente a Educação é um ponto central para mim, nesse contexto, e por isso iniciei essa mudança a partir da Educação trazendo a experiência de quem já esteve secretário no Amazona. Rossieli Soares (ex-ministro da Educação do governo Temer e vice-presidente do Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Educação, o Consed), conhece portanto a nossa realidade. Foi secretário nacional de Educação Básica, que é a secretaria mais importante do Ministério da Educação, foi ministro, foi secretário do estado de maior importância econômica e de maior população, que é São Paulo, com uma passagem absolutamente exitosa. Nós acabamos de entregar a 117ª escola reconstruída, mas tenho certeza que nós precisamos melhorar o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), diminuir a evasão escolar, precisamos construir uma cultura de monitoramento dos nossos alunos para saber se estão em um processo de assimilação do processo pedagógico. Esse é o início. Fiz a mudança de deslocamento da secretária Elieth Braga, que sai da Seduc para a Secretaria de Estado de Administração e Planejamento (Seplad), um cargo inclusive que ela já havia exercido junto comigo na prefeitura de Ananindeua. Devo fazer ao longo do mês de janeiro as outras mudanças que estarão sendo construídas a partir do diálogo que farei com diversos atores.
P: O senhor começa um novo mandato com a pandemia terminando e com diálogo junto ao governo federal, bem diferente de como foi há quatro anos. Quais as suas expectativas?
R: Acho que são dois ativos extremamente relevantes e que eu devo ter a capacidade de fazer disso uma grande oportunidade. Deus nos permita não precisar mais conviver com um momento similar ao que vivemos na pandemia. O ano de 2022 é uma demonstração de que quando se tem condições de executar aquilo que se planeja, os resultados são profundamente exitosos. Estamos fechando o ano com 16% de investimento, é o maior investimento da história do estado, com mais de R$ 5 bilhões em investimentos, e o estado vivendo um momento muito especial. Somado a isso, claro, a parceria com o governo federal será profundamente importante para que nós possamos, primeiro provocar o governo federal a cumprir com o seu dever de casa, e aqui cito as estradas. Por exemplo, importante é a duplicação da BR-316 de Castanhal para Santa Maria, a retomada da obra da 308 de Bragança para Viseu, a conclusão da Transamazônica, além claro de obras novas, como o derrocamento do Pedral do Lourenço, para dar navegabilidade para o Rio Tocantins de Marabá até Tucuruí, para que nós possamos resolver questões burocráticas. Estamos esperando há mais de um ano que nos liberem a área do aeroclube para fazer o Parque da Cidade e nós já depositamos, há um ano, R$ 25 milhões na conta do governo federal e mesmo assim eles não liberam a área para nós. Os armazéns das docas, para que nós possamos avançar com as obras do Porto Futuro e fazer daquilo uma orla para nossa capital, dentre tantos outros desafios.
P: Como você vê essa parceria com seu irmão no Ministério das Cidades?
R: Estou muito otimista, e claro, o ministro Jader Filho, no Ministério das Cidades, terá um papel importante. Além da minha relação direta com o presidente Lula e com um conjunto de colaboradores, mas ele na condição de ministros terá um papel de ajudar as cidades do Pará, por exemplo, com a questão do tratamento de esgoto, do abastecimento de água, o tratamento de resíduos sólidos, que são desafios ainda profundamente amplos de baixa cobertura nas cidades paraenses. E também que seja embaixador junto com a bancada de deputados e senadores em defesa do Pará.
P: A futura ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, declarou em entrevista recente que, para além do Fundo Amazônia, o governo federal seguirá buscando mais financiamentos internacionais. Quais as metas para o Meio Ambiente nesse novo mandato?
R: Eu acho que o Brasil passa a estar com credibilidade para dialogar no âmbito internacional, se reapresenta ao tabuleiro. Isto deve ser uma oportunidade. A reativação do Fundo Amazônia é importante, mas é fundamental que nós possamos também ter a capacidade de acessar recursos para garantir projetos que permitam com que o modelo de desenvolvimento sustentável e social para nossa região possa ser garantido. Por um lado, combater as ilegalidades ambientais com a força da lei, e por outro construir um modelo de uso da terra que seja de agricultura e pecuária com intensividade sem precisar avançar sobre a floresta, sejam novos modelos, como bioeconomia, floresta em pé e captura de carbono gerando oportunidades de negócios para nossa região.
P: O Pará, isso anunciado pela própria Sefa mais de uma vez, tem baixo índice de endividamento. Nesse próximo mandato o senhor deve investir em novas operações de crédito para levar em frente mais obras de infraestrutura?
R: A saúde fiscal tem de estar acompanhada de um importante ativo para a transformação social e os benefícios para que o estado possa crescer e se desenvolver. O estado do Pará hoje é o estado com o menor endividamento do Brasil. O Estado do Pará acabou de quitar todos os seus precatórios, não tendo mais dívida de precatório do passado. Apenas quatro estados do Brasil estarão em dia com seu precatório. Isso mostra que nós conseguimos, por um lado, investir o maior pacote de investimento da história do Estado, mas sem que isso representasse o descontrole das contas. Por outro lado, nós controlamos as contas sem que isso representasse um sacrifício para a sociedade.
P: O que a população pode esperar sobre novos concursos e novos programas de transferência de renda?
R: Nós estamos estudando um programa de transferência de renda específico para o Marajó, já que é a região com o menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Estamos na fase de conclusão disto, porque estamos atrelando à redução da evasão escolar e a garantia de que isto será um incremento no melhoramento da Educação na região. Isto é o foco da transferência de renda que está em gestação dentro do governo. Nós vamos ampliar os concursos públicos, agora mesmo acabamos de anunciar um pacote de novos concursos, destacando as atividades meio, mas também tendo aqui um olhar muito claro para o sistema de segurança, que precisa cada vez mais ampliar o seu efetivo para garantir paz à população.
P: Na saúde, o seu foco será em mais vagas ou em mais estrutura? Ou nos dois?
R: Eu tenho muita preocupação com especialidades médicas. A nossa intenção é ampliar o número de policlínicas, para que nós possamos garantir com que as especialidades médicas estejam descentralizadas no estado, para que nós possamos encurtar o caminho das pessoas para os serviços de especialidades médicas. Eu apresentei na campanha e irei executar obras importantes, como por exemplo o Hospital da Mulher, que será concluído nos próximos meses, o novo pronto-socorro para a Região Metropolitana de Belém, o Hospital Materno Infantil de Santarém, que está ficando pronto, mas também um novo Hospital Materno Infantil em Altamira, em Marabá e no município de Breves. Nós estamos muito focados na reestruturação da oncologia no estado, fortalecendo a estrutura do Hospital Ophir Loyola, mas também ampliando a oncologia para o interior. O Hospital do Coração, que representa a segunda maior demanda depois de trauma no sistema de saúde, portanto nós devemos ter um olhar, por um lado ampliando as especialidades, a oferta de hospitais, mas por outro lado as policlínicas para garantir o atendimento clínico, evitando com isto a necessidade de internação.
P: O senhor sai fortalecido desta eleição. O seu partido elegeu nove deputados federais, 13 deputados estaduais, ou seja, um fortalecimento muito notório, a ponto de ter batido o martelo sobre a decisão de quem ocuparia o Ministério das Cidades. Isso já é um trabalho pensando em 2026 ou mais para frente?
R: Eu tenho consciência de que o que me torna forte é corresponder, à população do meu estado, a confiança que os paraenses tiveram em mim. Tudo o que eu consegui é fruto do reconhecimento da população do meu estado. Portanto eu não posso perder o foco de devolver ao meu estado a confiança que a população paraense me concedeu. Eu, portanto, estarei nesse segundo mandato com um desafio junto com Hana de fazer o melhor governo da história do Pará. Feito isto, é inevitável que os resultados eles aconteçam, como aconteceram. Você listou diversos resultados que são frutos exatamente dessa colheita. Portanto, eu não vou mudar a fórmula: farei um governo com mais dinamismo, com mais entusiasmo, com mais energia, com mais presença, com autocrítica, com humildade de entender que não é porque tive a votação que tive que não preciso melhorar. Feito isto é inevitável que o Pará esteja sob o olhar do Brasil, e consequentemente isto me permitirá dialogar e contribuir além das fronteiras do Pará.
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