Os três brasileiros presos na Tailândia, em junho passado, por suspeita de tráfico internacional de drogas foram soltos por falta de provas. A informação foi confirmada à reportagem, nesta sexta-feira (21), pela advogada de duas das suspeitas.
Já o Ministério das Relações Exteriores informou que segue prestando “toda assistência aos brasileiros”, mas que, em observância ao direito à privacidade, não pode fornecer dados específicos sobre casos individuais de assistência aos cidadãos brasileiros.
As irmãs Daiana Chalegre Muritiba, 30, e Samara Taxma Chalegre Muritiba, 28, além de Laécio José Paim das Virgens Filho, 25, estão no Brasil desde o último dia 15, quando desembarcaram em São Paulo, após receberem a liberdade condicional da Justiça tailandesa.
Os três são moradores do município de Feira de Santana, a cerca de 100 quilômetros de Salvador. Foi de lá que o trio partiu, em 11 de junho passado. A reportagem conversou com Laécio, que relatou o drama vivido durante os quatro meses em que esteve preso no país estrangeiro.
De acordo com o rapaz, o trio de amigos viajou ao país asiático para realizar trabalhos como modelos. Depois de passarem pela alfândega, uma das jovens teria sido abordada pela polícia local por suspeita de carregar substância entorpecente na bagagem.
“Inicialmente, nós ficamos sem entender nada, mas tranquilos. Depois, que a mala passou pelo raio X, perguntaram o que era aquele material no fundo”, contou. “Não sabíamos o que era. Ficamos tão abalados quanto surpresos. Aí caímos no choro”, prosseguiu.
Do aeroporto de Bancoc, diz, o trio passou por duas carceragens, antes de ser ele enviado para um presídio local, onde dividia a cela com outras 11 pessoas. Dez dos colegas de prisão eram tailandeses, enquanto um era sírio.
Na detenção, conta, recebeu dois lençóis: um que utilizava para forrar o chão, outro para se cobrir. “De dia, era um calor de uns 45 graus. À noite, fazia frio. Às vezes, usava o lençol como cobertor, outras como travesseiro”, recorda.
Laécio diz que não chegou a ser hostilizado pelos tailandeses, que, segundo ele, são simpáticos aos brasileiros por causa do futebol. Mas diz que recebia “conselhos” para se matar, por causa da rigidez do país com suspeitos de tráfico.
“Uma coisa é você cometer o crime, outra coisa é ser inocente. A única coisa que eu pedia era Justiça”, afirma.
As coisas começaram a melhorar, segundo o rapaz, quando ele contraiu Covid, o que o fez ser transferido para o isolamento com outros presos infectados. “A partir de então, fui transferido para uma delegacia, quando pude, inclusive tomar banho de sol”, detalha.
Ele diz que, após a transferência, pôde ter acesso ao dinheiro retido pela Justiça, montante que seria utilizado para comprar alimentos, segundo ele. “Não só para mim, mas para os demais presos. Na prisão, serviam orelha de porco para a gente comer”, afirma.
Às 6h do último dia 10, diz o jovem, ele foi acordado pelos policiais, que o informaram que ele estava em liberdade. “Eu achei que era brincadeira, diante de tudo que eu ouvi durante esses quatro meses de prisão”, duvidou.
Segundo a advogada Kaelly Cavoli Miranda, que representa as irmãs, a tese da defesa foi fundamentada na coleta de provas com base nas imagens obtidas junto ao aeroporto de Salvador, fotos das jovens com as malas delas e fichas limpas de antecedentes criminais.
“Como as imagens do aeroporto de Guarulhos já haviam se perdido, a gente conseguiu, por meio de fotos tiradas pelos familiares, além dos vídeos de Salvador, que elas não tinham a posse das malas [com as drogas atribuídas às irmãs]”, argumentou.
Além disso, prossegue a advogada, a polícia local não teria encontrado vestígios nos celulares das clientes de que elas teriam envolvimento com o delito apontado. “Tanto é que, na saída, os aparelhos delas foram devolvidos”, informa.
De acordo com Miranda, a suspeita das malas vinculadas aos nomes das clientes levou a polícia local a detê-las para averiguação. “Fizeram a verificação, não encontraram nada e, então, elas foram liberadas com uma espécie de alvará”, explica.
Ela diz que os advogados contratados na Tailândia continuam acompanhando o processo, enquanto as clientes estão à disposição para esclarecimentos. “Estão passando por essa situação de trauma. O que esperamos é que elas possam reconstruir suas vidas”, diz.
Para a mãe do jovem, Patrícia França, 45, a sensação é de alívio ao ter o filho de volta ao Brasil. “Foram quatro meses de angústia. A soltura dele foi um momento de euforia. Só acreditamos quando ele desembarcou no aeroporto. Foi um milagre de Deus”, comemora.