O novo nascimento: Mudança de consciência e não de aparência

Um dos grandes erros cometidos por muitos líderes religiosos e que também é replicado por pessoas que frequentam diversas igrejas é achar que o “nascer de novo” tem haver com a mudança de aparência e comportamento. É como se o indivíduo que acabou de aceitar Jesus como salvador tivesse agora uma cartilha de normas e condutas a serem seguidas diante da sociedade. Um pensamento perigoso e preocupante, e que deve ser combatido no meio cristão. 

Jesus e Nicodemos (João 3:1-21):

Nicodemos era uma autoridade entre os judeus, fazia parte do grupo dos fariseus, os quais eram os mais zelosos com a lei. E além de outras funções, os fariseus tinham a responsabilidade de verificar e avaliar a todos que se denominavam como o “messias”.  

Tão logo que Jesus iniciou seu ministério, alguns dos fariseus foram designados para acompanhar de perto os passos dele. E durante alguns dias, Nicodemos esteve analisando o comportamento de Jesus. Nicodemos analisou com quem Jesus andava, com quem se relacionava e principalmente, analisou minuciosamente os seus milagres e ensinamentos. 

Passados alguns dias, durante a madrugada, Nicodemos resolve ir ao encontro de Jesus para uma conversa, e dessa vez, sem a intenção de investigar. Nicodemos só queria poder expressar seus anseios e suas angústias acerca da sua vida e sobre tudo aquilo que tinha aprendido sobre o reino de Deus.

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Durante a conversa, Nicodemos fora surpreendido com a seguinte afirmação de Jesus: “… Na verdade te digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus”. Nesse exato momento, Jesus impõe a Nicodemos um pensamento, inconcebível do ponto de vista humano, pois como pode um homem nascer de novo? Como pode um homem, voltar ao ventre de sua mãe? Esses foram os questionamentos de Nicodemos. Mesmo sendo um grande estudioso da lei, ele não conseguiu compreender o que Jesus estava querendo dizer em suas palavras.

Mais de dois mil anos se passaram e a mesma dúvida que pairou no coração de Nicodemos ainda paira no coração de muitos. Muitas pessoas se convertem ao evangelho de Cristo, e mesmo assim, não conseguem entender sobre o “novo nascimento”. E como consequência, o que vemos, são pessoas que acabam seguindo uma série de normas e condutas imposta pela religião. Um grande equívoco, e que precisa ser corrigido.

Em 2003, quando me converti ao evangelho de Cristo, não entendia nada sobre o “novo nascimento”. E por dar ouvidos ao que muitos, erroneamente diziam a respeito da caminhada com Jesus, passei a seguir uma espécie de “cartilha” imposta pela denominação a qual eu fazia parte. De uma hora para outra, deixei de falar com amigos que fiz ao longo da vida, deixei de ouvir músicas que eu gostava de ouvir. Passei a me vestir igual a maioria dos evangélicos (sempre de calça e camisa social), além de alterar uma série de condutas no meu dia a dia.

Com o passar dos dias, comecei a perceber que essas alterações em meu comportamento, não estavam causando impacto sobre a minha vida. No mais, só serviram para dar uma boa impressão aos meus pais e as pessoas à minha volta. Pois para a sociedade, para as pessoas da igreja, pelo fato de eu seguir à risca a todas as normas, eu era visto como uma “pessoa de bem”, era visto como um “bom rapaz”. Mas a verdade é que eu vivia uma vida de aparências, tentando esconder de todos, até os meus pecados mais ocultos.

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Passou um bom tempo, até que comecei a entender que para Cristo, essas práticas não faziam nenhuma importância. Passei a entender que Jesus morreu na cruz, não para que eu deixasse de ouvir determinada música, não para que eu deixasse de me relacionar com os outros ou para que eu passasse a me vestir e a falar igual aos crentes da igreja que frequentava. Ele havia morrido na cruz, para me salvar, para me resgatar dos meus pecados.

A proposta de Jesus é muito simples: caminhar ao lado dele. Daí, durante a caminhada, você passa a entender como ele pensa, como ele enxerga o mundo a sua volta, e como ele age diante dos problemas do cotidiano. E aos poucos, você começa a se parecer um pouco mais com Cristo, começa a adquirir seus hábitos. 

Quando Nicodemos ouviu Jesus falar em “novo nascimento”, ele não conseguiu entender que Jesus falava sobre uma nova consciência, sobre “morrer” para nossas vontades, sobre deixar ao longo da estrada, certas verdades, a qual julgamos ser corretas. O “novo nascimento” tem haver com o negar-se a si mesmo, é tomar sua cruz e seguir os passos de Cristo, e com isso, ressurgir com uma nova mente, com um novo coração. 

Com essa compreensão, hoje posso ouvir as músicas que sempre gostei de ouvir, posso continuar a me relacionar com os amigos que fiz ao longo da jornada. Posso ir com eles a um bar, e mesmo não consumindo bebidas alcoólicas, posso sentar-me à mesa e compartilhar boas histórias. Posso ir a um casamento de um amigo gay, por exemplo, celebrar e ficar feliz com ele, e mesmo assim, continuar com a minha consciência limpa a respeito do reino de Deus.

A mudança que Cristo nos propõe, não é uma mudança externa, só de aparência, mas sim uma mudança interna, em nosso coração e em nossa consciência. 

O crente que muda sua aparência, para ser bem visto pelos outros, acaba sendo igual ao sepulcro caiado, citado por Cristo no evangelho de Mateus: Limpo por fora, mas podre por dentro. 

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Demax Silva é colunista do podcast Outside

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