Grupos criminosos que utilizam o ambiente virtual para aplicar golpes têm ficado cada vez mais antenados no comportamento das vítimas. Com foco nas informações que o próprio universo on-line disponibiliza, os estelionatários criam subterfúgios para atrair os alvos e, muitas vezes, conseguem êxito na execução do crime. A facilidade que tecnologia proporciona aos seus usuários e a busca cada vez mais frequente pela simplificação de processos é o ambiente perfeito para os variados golpes cibernéticos aplicados.
Uma das modalidades que vem chamando a atenção das autoridades policiais no Pará é o de 'falso intermediário' da OLX. Segundo estima a delegada Maria de Fátima Chaves, da Diretoria Estadual de Combate a Crimes Cibernéticos (DECCC), este tipo de crime está entre as principais ocorrências recebidas pela Polícia Civil do Pará.
Apesar da relativa simplicidade na execução, o golpe exige boa argumentação e habilidades de manipulação por parte dos criminosos. Os estelionatários atuam para unir as duas pontas do trâmite comercial: um vendedor e um comprador, sempre articulando simultaneamente com os dois lados.
"O golpe de falso intermediário consiste no criminoso entrar em contato com o vendedor original e falar que quer comprar algo e então a vítima começa a dar informações aos criminosos. Enquanto isso, os mesmos criminosos criam uma outra página da OLX com essas informações. A vítima começa a entrar em contato e eles fazem uma espécie de intermediação entre vendedor e comprador", detalha a delegada Maria de Fátima Chaves. "A vítima acaba depositando um dinheiro e, quando se encontra com o vendedor, percebe que caiu em um golpe. Às vezes ocorre até de um começar a desconfiar do outro", acrescenta.
Segundo a delegada, os usuários da plataforma de compra e venda devem desconfiar de propostas com valores muito abaixo do mercado e, também, de compradores com lances acima do que foi pedido. "De setembro para cá, instauramos duas operações de falsos intermediários da OLX. E tenho certeza que vamos conseguir fazer buscas e apreensões", enfatiza.
Este, entretanto, está longe de ser o único ambiente utilizado pelos criminosos. Um outro golpe comum, segundo a delegada, é o do "falso parente" no WhatsApp. Os criminosos trocam mensagens com as vítimas se apresentando como familiares e amigos, mas com outros números, roubando a identidade de pessoas conhecidas.
"A vítima recebe uma mensagem de um número totalmente estranho, mas com a foto de um perfil se identificando, dizendo que está no banco, que precisa fazer pagamento ou uma transferência. A vítima se preocupa e logo faz aquele depósito. Quando a pessoa dá por si, ela percebe que caiu no golpe", pontua.
Segundo ela, pedidos assim precisam de calma. "Tente contato com essa pessoa. Trocar de número é comum. Mas não é comum que essa troca venha seguida logo de um pedido de dinheiro", ressalta a delegada.
Outro golpe comum também utilizado pelos bandidos é de boletos e QR Codes falsos, que induzem as vítimas a efetuarem pagamentos a terceiros. "É importante sempre observar o boleto bancário, conferir se o banco é o mesmo do boleto ao efetuar o pagamento, porque se é um boleto fraudulento, quando a vítima insere os dados, aparecem informações de outras pessoas", orienta.
Professor de engenharia da Estácio e especialista em Redes de Computadores, Eudes Mendonça afirma ser importante ter cautela e atenção aos protocolos de segurança durante o uso das ferramentas digitais, sobretudo de pagamento, até porque os criminosos estão cada vez mais criativos. "Não existe regra. Eu diria que a principal palavra seria bom senso. Realmente tem que ter cuidado", comenta. "No primeiro momento, para que a pessoa não tenha a sua rede social roubada, o seu WhatsApp clonado, ele deve contar com autenticação em duas instâncias. Só a senha, é muito pouco em nível de processo de segurança", acrescenta.
Proteger os aparelhos utilizados também é um item básico para manter a segurança, aponta o professor. "É ideal que a máquina do usuário tenha um antivírus pago, que o usuário também atualize o sistema operacional, que tenha softwares originais e não sistemas crackeados. Então são preocupações que todo usuário precisa ter sempre. E, além disso, não fazer o download de um aplicativo desconhecido, ou abrir links desconhecidos por email ou SMS", indica.
Mendonça também dá uma dica para identificar endereços falsos. "Como é que eu sei que o site é verdadeiro? Através de um processo de certificação digital. Geralmente sites em HTTP não são seguros. Eu tenho que trabalhar, tenho que verificar se é um site HTTPS, se trabalha e tem a certificação digital que vai me dar veracidade. Se aquele site é real. Se eu for comprar um produto dentro de uma plataforma, o ideal é trabalhar com uma plataforma que dê uma garantia de finalizar o pagamento se o produto chegar", pontua.
Ainda segundo o especialista, guardar comprovantes é importante caso algo dê errado. "Fuja de algo mirabolante ou absurdo. E, principalmente, guarde tudo que você fez, documentos, e-mails, arquive todas as informações, porque se você precisar de alguma coisa, essa informação será o comprovante pra poder começar a rastrear em cima de qualquer dado", conclui.
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