Uma blogueira mirim, de apenas 14 anos, morreu sem um diagnóstico enquanto aguardava vaga em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em Praia Grande, no litoral paulista. Emily Alves Pereira da Silva teve suspeita de dengue e meningite, mas não obteve confirmação de nenhuma das doenças. “É um anjo, tinha muitos sonhos, mas Deus a recolheu”, desabafou o pai, Ismael Pereira da Silva, de 38 anos.
Segundo o pedreiro, os sintomas na adolescente começaram no fim de março, por volta do dia 24. Ela sentia dores de cabeça e febre, foi medicada e ficou em casa. Sem apresentar melhora, os pais a levaram a uma unidade de saúde em Mongaguá, cidade vizinha, onde foram receitados outros remédios, e ela foi novamente liberada. Ainda sem apresentar melhora, ela voltou a procurar ajuda médica.
A jovem deu entrada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Quietude nesta sexta-feira (2), em estado grave. Segundo Ismael, a filha precisou ser intubada após ter uma parada cardiorrespiratória. Com um quadro que não apresentava melhora e sem um diagnóstico correto, ela precisava ser levada com urgência para uma UTI.
“Eu vi minha filha dormindo e pensei que o Senhor já tinha recolhido ela”, descreve o pedreiro.
Ele reitera que os profissionais de saúde fizeram tudo que podiam, mesmo após a parada, e mantiveram os medicamentos na esperança de que ela fosse transferida. Segundo a família, o exame mostrava uma mancha na cabeça da adolescente e o pulmão comprometido. Os profissionais, a princípio, suspeitavam de dengue, mas um médico informou que poderia ser meningite bacteriana.
Na manhã deste sábado (3), a jovem não resistiu. Sem a causa da morte, familiares passaram a lidar com o luto. “Não tem mais como trazer minha filha de volta”, diz o pai. A adolescente foi sepultada durante a tarde. A família explica que tudo aconteceu muito rápido, e mesmo em meio às dificuldades, relata estar em paz, e relembra como Emily era.
“Minha menina era um amor de pessoa, completaria 15 anos no fim deste mês. Muito caseira, estudiosa, inteligente, fazia vários vídeos para as redes sociais e pensava em ser famosa. Deus a recolheu e dará forças para nós”, desabafa Ismael. A adolescente contava com milhares de seguidores nas redes sociais, que a homenagearam e deixaram mensagens para os familiares.
Posicionamentos
A Prefeitura de Praia Grande informou, por meio da Secretaria de Saúde Pública, que a paciente deu entrada na Unidade de Pronto Atendimento Quietude na manhã de sexta-feira, às 9h17, com quadro grave, e recebeu toda a assistência da equipe de saúde de plantão. A paciente foi inserida na Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (Cross) do estado com solicitação de vaga para UTI, que não foi atendida a tempo. O óbito foi confirmado na manhã de sábado, às 08h39.
A Secretaria de Saúde do Estado também se posicionou sobre o caso de Emily. Confira a nota na íntegra:
“Devido ao recrudescimento da pandemia de Covid-19 e ao aumento exponencial de internações, a sobrecarga na rede de saúde já é uma realidade em diversos locais, e os serviços do SUS esforçam-se para garantir assistência adequada e oportuna a todos. Isso é feito para demandas das 645 cidades do estado, independentemente da doença do paciente. O mesmo ocorre por parte da Central de Regulação estadual, que funciona 24 horas por dia como mediadora entre os serviços de origem e de referência.
Seu papel não é criar leitos, mas auxiliar na identificação de uma vaga no hospital mais próximo e apto a cuidar do caso. Nenhuma negativa parte deste serviço, que é apenas intermediário. Cada solicitação é avaliada por médicos reguladores, sendo crucial a atualização do quadro clínico, estabilização e deslocamento seguro do paciente.
A demanda de transferências para casos de Covid-19 registradas na Cross cresceu 117% em comparação ao pico da pandemia: atualmente, são cerca de 1,5 mil pedidos por dia, contra 690 em junho de 2020, quando foi o auge da primeira onda. Em 10 de março, a média de pedidos era de 1,2 mil diariamente. Cerca de 35% das solicitações diárias referem-se a leitos de UTI. Já houve mais de 190 mil regulações de Covid-19 desde março do ano passado.
A regulação depende da disponibilidade de leitos e de condição clínica adequada para que o paciente seja deslocado com segurança até o hospital de destino”.