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Pandemia deixa 9,7 milhões de trabalhadores sem remuneração em maio

O distanciamento social provocado pela pandemia de Covid-19 deixou 9,7 milhões de trabalhadores sem remuneração em maio de 2020. Isso corresponde a mais da metade (51,3%) das pessoas que estavam afastadas de seus trabalhos e a 11,7% da população ocupada do país, que totalizava 84,4 milhões.

As informações são da primeira divulgação mensal da PNAD COVID19, realizada hoje (24) pelo IBGE. O levantamento é uma versão da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD Contínua), realizada com apoio do Ministério da Saúde, para identificar os impactos da pandemia no mercado de trabalho e para quantificar as pessoas com sintomas associados à síndrome gripal.

“Nós já sabíamos que havia uma parcela da população afastada do trabalho e agora a gente sabe que mais da metade dela está sem rendimento. São pessoas que estão sendo consideradas na força, mas estão com salários suspensos. Isso não é favorável e tem efeitos na massa de rendimentos gerada, que está estimada abaixo de R$ 200 bilhões”, comentou o o diretor adjunto de pesquisas do IBGE, Cimar Azeredo.

A pesquisa mostrou que 19 milhões de pessoas (ou 22,5%) estavam afastadas de seu trabalho, sendo que 15,7 milhões (ou 18,6%) estavam afastadas devido ao distanciamento social. Além disso, o grupo etário com maior proporção de pessoas afastadas do trabalho foi o de 60 anos ou mais: 27,3%.

Trabalhadores domésticos sem carteira foram os mais afetados, registrando o maior percentual de pessoas afastadas devido à pandemia (33,6%), seguidos pelos empregados do setor público sem carteira (29,8%) e pelos empregados do setor privado sem carteira (22,9%). Já entre os trabalhadores domésticos com carteira, o percentual de afastados foi de 16,6%.

“Claramente os trabalhadores domésticos sem carteira foram os mais afetados pela pandemia. Parcela expressiva deles tem renda média abaixo de um salário mínimo. Já os com carteira foram menos afetados porque têm mais estabilidade”, explicou Azeredo.

 Nível superior predomina entre os trabalhadores remotos

Do total de ocupados, 65,4 milhões não estavam afastados, o equivalente a 77,5% dos ocupados. Entre os não afastados, 8,7 milhões estavam trabalhando de forma remota (13,3%). Quanto maior o nível de instrução, maior foi o percentual de pessoas que trabalhavam remotamente. Para as pessoas com nível superior completo ou pós-graduação, 38,3% estavam trabalhando remotamente; médio completo e superior incompleto, 7,9%; fundamental completo e médio incompleto,1,7% e sem instrução ou com fundamental incompleto, 0,6%.

Segundo Azeredo, “isso já era esperado, pois trabalhadores de nível superior estão envolvidos em atividades mais passíveis de serem realizadas de forma remota, como professores, analistas, técnicos de TI etc”.

Média de horas efetivamente trabalhadas cai e rendimento efetivo dos trabalhadores fica 18,1% menor que o habitual

Caiu o número de horas trabalhadas para as pessoas que estavam ocupadas e não afastadas: 27,9% delas trabalharam efetivamente menos horas que as habituais (18,3 milhões), fazendo com que a média passasse de 39,6 horas habituais por semana e para 27,4 horas de fato trabalhadas. No entanto, para 2,4 milhões de trabalhadores, ou 3,6% das pessoas ocupadas e não afastadas, a média de horas trabalhadas aumentou.

Também caiu o rendimento efetivo dos trabalhadores, ficando cerca de 18% menor do que o habitualmente recebido. O rendimento habitual de todos os trabalhos no país ficou, em média, em R$ 2.320 e o efetivo em R$ 1.899, ou seja, o efetivo representava 81,8% do habitualmente recebido.

Segundo a pesquisa, no Brasil, 38,7% dos domicílios receberam algum auxílio relacionado à pandemia. O valor médio recebido foi de R$ 847 reais. Entre os benefícios, estão o Auxílio Emergencial e a complementação do Governo pelo Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda.

Mais de 28 milhões de pessoas não procuraram trabalho devido à pandemia

Em maio, havia 75,4 milhões de pessoas fora da força de trabalho no Brasil, dos quais 34,9% não procuraram trabalho, mas gostariam de trabalhar, e 24,5% não procuraram principalmente devido à pandemia ou porque faltava trabalho na localidade em que residiam, mas também gostariam de trabalhar.

Ao somarmos a população fora da força que gostaria de trabalhar, mas que não procurou trabalho, com a população desocupada, temos 36,4 milhões de pessoas pressionando o mercado de trabalho. Quando o motivo de não ter procurado foi pandemia ou a falta de trabalho na localidade, o total foi de 28,6 milhões de pessoas.

Azeredo analisa que a crise da Covid-19 inflou a força de trabalho potencial. “Esse fenômeno afeta principalmente as pessoas de nível superior, pretos e pardos e adultos de 30 a 49”, explicou.

Mais de 4 milhões de pessoas apresentaram sintomas conjugados associados à Covid-19

A PNAD COVID19 construiu um indicador síntese que conjugou, entre os sintomas investigados, os mais associados à Covid-19. Os conjuntos de sintomas utilizados foram: perda de cheiro ou de sabor, ou tosse e febre e dificuldade para respirar, ou tosse e febre e dor no peito.

O diretor adjunto de Pesquisas do IBGE explica a elaboração desse indicador síntese se deu a partir de uma pesquisa recomendada pelo CDC – Control Disease Center, observação de experiências internacionais e consulta a especialistas brasileiros do Inca, do Ministério da Saude, da Fiocruz, da escola de enfermagem UFMG. “São os sintomas relacionados à síndrome gripal. Na pesquisa de julho serão inseridos outros sintomas, entre eles, a diarréia”, complementa Azeredo.

Os resultados indicaram que 4,2 milhões de pessoas (ou 2% da população) apresentaram sintomas conjugados de síndrome gripal que podiam estar associados à doença. Os sintomas foram informados pelo morador e não se pressupõe a existência de um diagnóstico médico.

As pessoas pretas ou pardas representaram 70% dos que apresentaram algum dos sintomas conjugados, e as mulheres representaram 57,4%. Pela distribuição etária, o maior percentual foi entre as pessoas de 30 e 59 anos (55,2%), seguido pelo grupo entre 20 e 29 anos (21,1%) e pelos idosos com 60 anos ou mais (11,1%).

Entre as pessoas que apresentaram sintomas conjugados, 31,3% (ou 1,3 milhões de pessoas) procuraram atendimento em estabelecimento de saúde. A maioria deles procurou atendimento em estabelecimentos públicos de saúde (postos de saúde, equipe de saúde da família, UPA, Pronto Socorro ou Hospital do SUS): 78,2%.

Além disso, 13,5% (61 mil) das pessoas que procuraram atendimento em hospitais com algum dos sintomas conjugados precisaram ficar internadas e, destas, 36,1% (22 mil) precisaram ser sedadas, intubadas e colocadas em respiração artificial.

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